Credo! Por que você é assim?!?

Eu nunca fui o tipo de pessoa que se importa com as pérolas que escuta ao decorrer da vida, mas tem coisas que não adianta; eu me recuso a esquecer de tão ruim que é.
É dentro de transportes públicos, é na rua, é no trabalho, é dentro de estabelecimentos... É um estupro auditivo consecutivo, um atrás do outro...
Um exemplo de como isso pode deixar qualquer ser humano inteligente transtornado foi uma conversa entre duas moças (fúteis) dentro do mesmo onibus em que eu estava; a caminho do meu alegre trabalho.
E como não pode deixar de ser, tenho de descreve-las, senão seu senso imaginativo não terá incentivo ao produzir a cena: duas jovens moçoilas, na faixa dos seus 22 anos, aparentemente universitárias, cabelos (visivelmente) alisados na chapinha e escova progressiva; com as populares mechas californianas. Os óculos estilo olho de mosca da gucci e armani (se é que eram originais, né) tomando conta da carinha pequena e com as bochechas pichadas de blush rosa forte. As roupas eram um caso à parte; me arrisco a acreditar que só não tinha o logotipo da Planet Girls gravado no corpo...
Numa certa altura da (torturante) viagem, um assunto começou a ser cacarejado ao lado de minha infeliz pessoa(e pra ser ouvido em som de home theater em 3D pelo onibus todo); acompanhe:


Guria nº1:Voce sabia que Fulano de Tal queria ficar comigo na baladinha?
Guria nº2:Ai, não acreditooo!!!!Mas não era ele que dizia que voce era chatinha e talz???
Guria nº1:Ai, o próprio... Mas sabe como é né; duas ice e um sorriso... E a gente já ganha no lucro!
Guria nº2: Mininaaaa!!!! Num creioooo!!!
Guria nº1: Verdaaaaade!!! Mas ele beija mal, amiga...
Guria nº2:Ai, que triste!(risos bisonhos) E ele é tão gatinho, como pode ser amador?
Guria nº1:Ah, foi meio zuado sabe; ele não ponhava a língua na minha boca, apertava minhas tetas com muita força, um tlogrodita...
Guria nº2:Ai, moreee, que tenso né... Mó desperdício no mundo...
(risos bisonhos)
Guria nº1:Ah, quando ele aprender a deixar de ser largatixa, a gente volta a trocar idéia....(mais risos bisonhos)


A tenebrosa conversa continuou depois que elas desceram no centro da cidade - provavelmente eram colegas de trabalho ou algo do gênero. Só sei que eu e a cobradora do onibus nos entreolhamos, silenciosas, assombradas com a falta de noção das duas criaturas que haviam acabado de descer no ponto central.
O problema não era nem o teor da conversa, mas sim o conjunto todo da "obra". Era demais pra qualquer pessoa saudável testemunhar aquilo sem surtar! O que vem a ser "ganhar no lucro"?!? E  o que foi aquele "ponhava"?!? E nem prefiro questionar os piores; "tlogrodita" e "largatixa"... Tão bonitinhas, coitadas... E tão mal produzidas, demonstrando uma ignorancia deprimente... As duas com a boca calada são duas poetas.


E aí voce pensa: "Não seja coração peludo, Tablis... Com essas críticas, voce tá se mostrando invejosa, as meninas são jeitosinhas e bla blah...". Não se engane; se indignar e criticar não é trollar gratuitamente.
Pra começo de defesa; não vejo razão em sentir inveja de seres exóticos como aquele. O fato de eu ser diferente do resto me diverte. Eu não sei se vai concordar, mas deve ser triste gostar de parecer ou ficar igual a todo mundo, achando que assim estará entrosado na sociedade ou na moda; mesmo que isso signifique ultrapassar o senso do ridículo e exagerar na dose. No meu conceito quase preconceituoso, esse estilo de vida só traz felicidade e bem estar pra quem nunca teve capacidade de lidar consigo mesmo ou com a realidade que lhe rodeia. E posso garantir que já conheci gente muito mais complexa e atormentada que, mesmo imersa em problemas, não se joga nesse mundico esquisito chamado "superficialidade adquirida e futilidade descarada". Acho mil vezes mais digno enfrentar os medos e os transtornos; mesmo que isso te despedace por dentro, do que ficar fugindo e maquiando -literalmente.
Como dizia o velho deitado: "mais valoroso é o guerreiro enfeiado por suas cicatrizes; pois são a prova de que ele lutou, sofreu, mas ergueu-se vitorioso".